Acredito que (quase) todos nós já nos perguntamos ao longo da vida “o que vou ser quando crescer?” Faz parte da jornada de vida e, consequentemente, influencia a jornada acadêmica e profissional de todos nós. Na atualidade, penso que podemos levar em consideração outras questões para além dessa “brincadeira de criança”. Como educadores, muitas decisões do planejamento pedagógico precisam ser norteadas por indagações e reflexões que permeiam as profissões do futuro, as organizações do futuro e como vamos atuar e preparar nossos estudantes para esse “futuro”.
São algumas questões que parecem distantes, mas que estão cada dia mais próximas e a nós, atores pedagógicos, cabe compreender e nos preocuparmos em atuar com o planejamento das metodologias que serão necessárias para abarcar o processo de ensino e aprendizagem dos profissionais que vão atuar em profissões e empresas que, de repente, ainda nem existem. Dessa forma, é impossível não falarmos de metodologias de ensino. Olhando para o passado e nas formas adotadas para ensinar, vamos recordar o velho e bom quadro negro e giz, em que o modelo de aula é baseado num sujeito (professor) que fala e nos receptores (alunos) que escutam. Basicamente assim. Não podemos ou devemos invalidar o modelo porque funcionou por muito tempo. Mas entendemos que já não é suficiente.
As chamadas “novas” tecnologias existem e já são muito bem difundidas para que possamos oferecer experiências de aprendizagem mais participativas, colaborativas, engajadoras e centradas no estudante. Nesse modelo, o educador é tomado como facilitador e mentor do processo de aprendizagem, ao invés de ser o detentor do conhecimento. A reflexão sobre a tríade formada pela cultura participativa, convergência de meios e inteligência coletiva, conforme apontado por Henry Jenkins, em “Cultura da Convergência”, revela um cenário onde a circulação de conteúdos é profundamente influenciada pela participação ativa dos consumidores (e por que não estudantes?). Trazendo para o cenário educacional, as “novas” metodologias proporcionam maior geração e circulação de conteúdos debatidos entre os estudantes, mediados pela tecnologia.
Na afirmação de Jenkins de que a convergência não acontece apenas por meio da tecnologia, mas nos cérebros dos consumidores individuais e através de suas interações sociais, trazemos o contexto de uma sala de aula (que sim pode ser física, mas também virtual) em que os estudantes utilizam de diversos meios e recursos para trocarem experiências e proporem soluções a eventuais problemas baseados na aprendizagem que estiver sendo discutida.
Adaptando o conceito de cultura participativa ao cenário educacional, nos referimos ao fenômeno em que os estudantes não são mais apenas receptores passivos de conteúdo, mas ativos na criação, compartilhamento e transformação dos conteúdos. Esta participação ativa é crucial para a circulação, disseminação de conteúdo, criando uma dinâmica de comunicação mais rica e diversificada. Na educação continuada, essa cultura participativa se manifesta quando os alunos colaboram em projetos, discutem ideias em fóruns online e criam conteúdos educativos que enriquecem o processo de aprendizagem.
A convergência de meios, segundo Jenkins, ocorre na mente dos consumidores (e estudantes) em suas interações sociais. Essa convergência não se limita apenas à junção de diferentes formas de mídia, mas também ao modo como as pessoas interagem com essas mídias e entre si. No contexto educacional, a convergência de meios implica a integração de diversas plataformas de aprendizado, como aulas online, recursos digitais, redes sociais e ferramentas colaborativas. Isso permite uma experiência de aprendizado mais integrada e acessível, onde os estudantes podem interagir com o conteúdo e com seus colegas de várias maneiras.
A inteligência coletiva emerge da interação entre indivíduos que compartilham e combinam seus conhecimentos para resolver problemas e criar novos conhecimentos. Essa inteligência é amplificada pela tecnologia, que facilita a comunicação e a colaboração em grande escala. Na educação continuada, a inteligência coletiva é evidente em comunidades de prática, fóruns de discussão e plataformas de aprendizado colaborativo, onde os alunos podem compartilhar insights, resolver problemas juntos e construir um corpo de conhecimento coletivo.
A tecnologia desempenha um papel vital na facilitação dessas três dimensões. Um meio, como descrito por Jenkins, é mais do que uma tecnologia; é um conjunto de práticas sociais e culturais que evoluem em torno dessa tecnologia, permitindo a comunicação. A tecnologia, portanto, não só facilita a disseminação de conteúdos mas também molda as práticas sociais e culturais de seus usuários o que tende a ser de grande valia para o processo de ensino e aprendizagem, ou melhor ainda, para o processo de aprendizagem de estudantes que produzem e compartilham conteúdos gerados por si, por professores e colegas de sala de aula.
Com as novas tecnologias, o público ganhou poder e está ocupando um espaço de interação entre os velhos e novos meios de comunicação velhas e novas metodologias de ensino, exigindo o direito de participar intimamente da cultura. No contexto da educação continuada, isso significa que os estudantes esperam ser cocriadores de suas experiências de aprendizado, utilizando tecnologias para contribuir, colaborar e personalizar seu processo educativo. Assim, as metodologias de ensino evoluem e, mediadas pela tecnologia, permitem que os estudantes sejam o centro do processo, adaptando-se às necessidades e expectativas das novas gerações e do futuro que nos espera.
Texto escrito por Dr. Victor Vinicius Biazon
Victor Vinicius Biazon é doutor em Comunicação, mestre em Administração e especialista em tecnologias educacionais.
Atualmente é Coordenador Geral de Educação Continuada na Vitru Education.
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